ESPECIAL SÃO FRANCISCO DE ASSIS
Francisco e Clara
Como qualquer homem, ainda que seja santo, Francisco pode ter experimentado a atração pela mulher e o sexo. As fontes referem que para vencer uma tentação deste tipo, uma vez, o santo se jogou em pleno inverno na neve. Mas não se tratava de Clara! Quando entre um homem e uma mulher há união em Deus, se é autêntica, exclui toda atração de tipo erótico, sem que exista sequer luta. É como refugiar-se. É outro tipo de relação. Entre Clara e Francisco havia certamente um fortíssimo vínculo também humano, mas de tipo paterno e filial, não esponsal. Francisco chamava Clara de sua "plantinha", e Clara chamava Francisco de "nosso pai".
Antoine de Saint-Exupéry escreveu que "amar não quer dizer olhar um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção". Clara e Francisco na verdade não passaram a vida olhando um ao outro, estando bem juntos.
Trocaram pouquíssimas palavras, quase só as referidas nas fontes. Havia uma estupenda discrição entre eles, tanta que o santo, às vezes, era amavelmente reprovado por seus irmãos por ser demasiado duro com Clara.
Só ao final da vida vemos atenuar este rigor nas relações e Francisco buscar cada vez com maior freqüência consolo e confirmação junto a sua "Plantinha". É em São Damião onde se refugia próximo à morte, devorado por enfermidades, e está perto dela quando entoa o canto de Irmão Sol e Irmã Lua, com aquele elogio de "Irmã Água", "útil e humilde e preciosa e casta", que parece ter escrito pensando em Clara.
Em lugar de olhar um ao outro, Clara e Francisco olharam na mesma direção. E se sabe qual foi para eles esta «direção». Clara e Francisco eram como olhos que olham sempre na mesma direção. Dois olhares que contemplam o objeto desde ângulos diversos dão profundidade, relevância ao objeto, permitem "envolvê-lo" com o olhar. Assim foi para Clara e Francisco. Contemplaram o mesmo Deus, o mesmo Senhor Jesus, o mesmo Crucificado, a mesma Eucaristia, mas desde «ângulos» diferentes, com dons e sensibilidade próprios: os masculinos e os femininos. Juntos perceberam mais do que teriam podido fazer dois Franciscos e duas Claras.
Depois de receber as chagas de Nosso Senhor, Francisco precisava partilhar o fato com uma pessoa: Clara. Então, determinou que o levassem até São Damião. Fora lá que o Crucificado lhe tinha falado pela primeira vez. Lá estavam as irmãs pobres de Clara. Sabia Francisco que se tratava de um viveiro de almas escolhidas e abençoadas por Deus. Para abriga-lo foi construída uma cabana perto do conventinho. Ali, Francisco haveria de se proteger do sol porque seus olhos não suportavam mais a claridade forte. Contam as lendas que os morcegos não abandonavam sua cabana.
Clara se dispôs a preparar ataduras, fios, emplastros, feitos com ervas medicinais, chinelos de tecido para os pés chagados do Pai. Podemos bem imaginar a alegria e a tristeza vividas pelas irmãs. Não cessavam de rezar pelo Pai tão doente e tão repleto de graças do amor do Senhor. Foi nesse quadro de exultação e dor que Francisco teria composto o Cântico das Criaturas.
Todo abrasado de fervor o cantor das criaturas, já quase cego, vivendo mais no céu do que na terra, perto de suas irmãs estimadas, apresentou a Deus um dos mais belos louvores que já subiram da terra até o céu.
No final de setembro de 1226, o Santo manifestou o desejo de terminar seus dias na Porciúncula. Lá tudo havia começado e lá a Irmã Morte o visitou. A Páscoa de Francisco se deu a 3 de outubro de 1226.
As clarissas de São Damião tiveram a alegria de receber o corpo de Francisco por alguns instantes. Antes de entrar na cidade, o cortejo tomou um atalho que conduzia até São Damião. Entre sentimentos de alegria e de tristeza, as irmãs beijavam suas mãos abençoadas e enfeitadas com as chagas do Senhor.
Com a morte e o sepultamento de Francisco, encerrava-se a convivência de Clara com o exemplo vivo do Evangelho.
Fontes
canção nova
carisma.franciscano
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Nosso pedacinho do céu...