Trecho retirado do livro
O Céu dos Bichos
Os elefantes africanos desenvolveram uma estrutura social maravilhosa baseada no matriarcado. Todos os elefantes machos são expulsos do bando depois de certa idade, mas o cuidado que as fêmeas dedicam aos filhotes e aos mais velhos e em especial o sentimento de luto demonstrado por elas quando um membro do grupo se vai são características admiráveis. Nessas ocasiões, a tristeza do bando é palpável; os elefantes tentam fazer o companheiro moribundo se levantar, enquanto o resto do bando forma um círculo protetor em torno dele. É possível ver e sentir a angústia dos animais. Eu já testemunhei uma cena assim, e vi a imensa elefanta que era a matriarca do grupo fazer soar sua tromba de um jeito que nunca vou esquecer - num grito de dor inconfundível.
No relato a seguir, veremos um caso de luto animal mais próximo de nossa experiência cotidiana. Debra escreveu: "Minha filha sempre adorou os animais. Não foram poucas as vezes, quando ela era pequena, em que apareceu em casa trazendo bichinhos perdidos para tomar conta. Certa vez, quando ela estava com dez anos, nosso lindo e bagunceiro labrador preto estava passando o dia no canil atrás de nossa casa. Minha filha deixou Sady sair para que ele fizesse um pouco de exercício. No meio do bosque, o cachorro encontrou um filhote de coelho. Infelizmente, ele não se deu conta da fragilidade do bichinho e começou a brincar com ele de uma forma meio bruta demais. Minha filha, quando viu o que Sady havia feito sem querer, embrulhou o coelhinho numa toalha e o levou para casa chorando. Eu fiz o que pude, mas não consegui salvar o animal.
"Nós o levamos para enterrar no quintal e, enquanto dissemos nossas orações, minha filha plantou um ramo de flores no túmulo. Cerca de duas horas mais tarde, saímos de casa e vimos a mãe coelha sentada imóvel à beira do túmulo - foi um momento carregado de espiritualidade, muito comovente. Muitas vezes, as pessoas dizem que os animais não têm sentimentos ou que são incapazes de ter emoções, mas, depois desse episódio com o coelhinho, nunca mais pensei dessa forma. Já se passaram muitos anos desde o incidente, mas as flores continuam crescendo no local exato onde enterramos o coelhinho."
Todos os animais têm sentimento de luto. Há alguns anos, um dos meus dois lhasa apsos amados faleceu. Os dois eram irmãos e haviam sido criados juntos desde que nasceram, sem jamais se separarem. Mitsy, a cadelinha que ficou, meteu-se debaixo da cama de tão triste e, por mais que eu a chamasse, não conseguia fazer com que viesse brincar, comer ou beber água. Por fim, eu tive a ideia de sair e comprar um novo filhote, o mais parecido possível com nosso falecido Chewy.
No instante em que entrei com o filhote em casa, Mitsy pôs a cabeça para fora e começou a observá-lo. Depois de duas horas, ela saiu de baixo da cama para brincar com ele. Talvez ela tenha pensado que seu querido irmão havia encolhido ou, talvez, mesmo notando a diferença, isso não importasse para ela. Desse dia em diante, assim como era com o Chewy, os dois tornaram-se inseparáveis. A única diferença era que Mitsy mostrava um instinto protetor especialmente aguçado com o novo Chewy - imagino que por ter medo de perdê-lo novamente.
Nós, humanos, não somos os únicos a ter corações, mentes e espíritos sujeitos a sentir luto, dor e arrependimento. Sabendo disso, por que não conseguimos entender que os animais se sentem solitários, abandonados e enlutados da mesma maneira que nós?
Não consigo sequer mencionar episódios de crueldade ou mesmo os experimentos que são feitos com animais, pois não suporto pensar no assunto e ele fica me assombrando por dias a fio. Mas tenho a esperança de que, um dia, com o trabalho educativo que fazemos com as pessoas e os protestos constantes, o ser humano acabe com a brutalidade contra essas criaturas maravilhosas que nada fazem senão nos ajudar e, muitas vezes, salvar nossas vidas.
Não tenha medo de chorar. As lágrimas libertam a mente dos pensamentos tristes.
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Saudade lembrada, saudade sentida, saudade hoje e para o resto da vida...saudade eterna!
Nosso pedacinho do céu...