Dentre as lembranças que trago dos meus tempos de piá,
Dos tempos que vivia lá no meu Passo do Valeiro,
Relembro um velho coqueiro, com seus coquinhos de mel,
A cumprir bem o papel que lhe deu a natureza;
E com saudade e tristeza o meu cachorro Fiel.
Esta a recordação mais forte, que trago daquele tempo:
Um cusco novo, ao relento, tapado de judiaria,
Tremendo na chuva fria, debaixo de raio e trovão,
Grunindo foi pra o galpão se achegando o guaipeca,
Talvez por saber o sapeca que criança tem bom coração.
Logo lá estava aquecido, ao pé do fogo de chão;
Deitado sobre um xergão tinha água, leite e comida.
Assim começava a vida um cachorro cuja história
Registra passagens de glória entre aqueles que o criaram,
Entre aqueles que o estimaram e o trazem vivo na memória.
E assim, com o passar dos dias, o cusquinho arrepiado
Foi pegando bom estado tornando-se um belo animal.
Na fuzarca era igual a qualquer guri. E o brinquedo
Que eu e todo o piazedo gostávamos mais de fazer
Era pô-lo pra correr no campo atrás de um pelego.
Nas campereadas ia junto, auxiliando a peonada;
Trazia rês desgarrada como se fosse um peão.
Apartava vaca e capão, pra consumo, na mangueira,
E na cura de bicheira, de terneiro ou de ovelha,
Firmava o dente na orelha até que ouvisse o grito “- eira!”
“É o melhor amigo do homem”, diz a máxima popular.
É mesmo de se pensar: será o ser humano capaz
De fazer o que ele faz? De ser leal, companheiro,
De se entregar por inteiro em função de uma amizade?
Um sentimento me invade ao lembrar o seu fim derradeiro.
Foi no banheiro de uma estância, lá um dia fomos brincar
De carrapatos matar, banhando o gado de osso.
E eu lá, na rampa do poço, a minha tropita banhava;
Um a um os meus bois mergulhava, quando sem querer resvalei;
Por socorro ainda gritei, mas não dava mais tempo pra nada.
Os outros, também piazitos, ficaram olhando, parados,
De olhos esbugalhados, com a idéia meio tonta;
Foi então que na outra ponta o Fiel como um raio apontou;
Numa corrida louca saltou em auxílio de seu amigo,
Que se encontrava em perigo. Meu cachorro, como um peixe nadou.
Nadou sentindo o veneno a lhe arder boca e focinho;
Mesmo assim mordeu o colarinho da camisa e foi me puxando,
Com muito esforço, nadando, até sair do outro lado.
Depois, apesar de cansado, com ternura e carinho me olhava,
Enquanto eu, agradecido, afagava o seu longo pêlo molhado.
Mas de repente a surpresa: o meu cão amigo e valente
Começou a serrar os dentes e a babar agonizante.
Entendi, naquele instante, que o veneno engolido
Mostrava o seu efeito nocivo e matava, ali, meu herói.
Por isso ainda me dói lembrar o meu cachorro Fiel, e amigo!
Autor: José Itajaú Oleques Teixeira |
| Poesia Por: José Itajaú Oleques Teixeira - Guará / DF |
| Observações: Um misto de realidade e ficção, para demonstrar o grande vínculo de amizade existente entre o Homem e o seu melhor amigo: o cachorro! |
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Saudade lembrada, saudade sentida, saudade hoje e para o resto da vida...saudade eterna!
Nosso pedacinho do céu...