✰ 16/09/2012
JR
Há pouco mais de quatro anos eu fui adotado por esse camarada aí da foto... Em pouco tempo ele se tornou, sem dúvida nenhuma, meu melhor amigo, meu mais fiel companheiro, meu fã número 1...
Certo dia, quando voltava da faculdade, minha tia me ligou dizendo que haviam abandonado um pit bull tigrado no estacionamento de um supermercado no Rio de Janeiro e que um sargento do corpo de bombeiros o havia levado para uma ONG perto da minha casa... Resolvi conhecê-lo... Devido à sua história, chamavam-no de "Sargento"...
Fiquei aterrorizado ao ver o número de animais que esperam por um lar somente naquela ONG... Vi que meu futuro filho ocupava uma gaiola cujo tamanho mal permitia que ele ficasse em pé... E isso dentro de um quarto com mais uns 20 cachorros... No mesmo lugar, ele comia, dormia, fazia cocô e xixi... Assim que abriram a grade da gaiola, ele saiu andando e encaixou a cabeça entre minhas pernas, como se pedisse carinho nas costas... Nem consigo descrever a sensação que tive naquele momento... Ainda sinto exatamente a mesma coisa hoje, 4 anos e meio depois desse dia...
Como nunca fui pai, imagino que seja exatamente a mesma emoção que um pai sente ao ver seu filho pela primeira vez, ainda na sala de parto...
Não foi necessário mais do que uma frase da funcionária da ONG para que eu decidisse levá-lo dali para sempre: "Oooolhaaaaa! Ele escolheu o dono".... Escolhi um novo nome, o meu próprio nome! Então ele passou a se chamar Iuri Junior... Para mim, não podia haver orgulho maior do que ter meu nome num ser tão especial como aquele, muito embora ele nunca tenha atendido pelo nome que escolhi... Na verdade cada um o chamava de uma forma... Na ONG ele continuava sendo o "Sargento"... Eu o chamava de "Iuri Junior", minha mãe de "Neném" mas ele só atendia mesmo por "Vem cá"...
Muitos me criticaram por adotar um pit bull já adulto, cuja procedência, história e temperamento eu desconhecia... Além disso, diziam que seria ruindade com o bichinho criar uma raça de tal porte em um pequeno apartamento que nem varanda tinha... Mas eu já tinha resposta pra tudo! Minha casa era pequena, mas certamente muito maior do que a área de pouco mais de 2 metros quadrados que ele ocupava naquela ONG...
A princípio reservamos a área de serviço para ele... A final de contas, não havia a menor condição de deixar um cachorro daquele tamanho circulando por nosso apartamento... Passados apenas 2 minutos desde a hora em que o colocamos para fora da "área social" do apartamento, ele começou a chorar como uma criança abandonada... Nesse mesmo dia e em todos os que ele viveu comigo, o pé da minha cama passou a ser o único lugar aonde ele conseguia dormir... Enquanto eu não chegasse em casa, ele não dormia... E foi sempre assim... Desde o primeiro dia....
Nesse ano, em março, ao chegar em casa de noite do trabalho, notei o que me pareceu ser um hematoma em sua pata direita dianteira... Fiz uma leve pressão no local e o ouvi choramingar de dor pela primeira vez nesses 4 anos... Imaginei logo que se tratara de algo realmente sério e corri com ele para uma emergência... Lá, ouvi da veterinária que aquilo seria, com toda a certeza, um osteossarcoma... Confesso que não me lembro muito do resto daquele dia... Fiquei tonto, enjoado, desnorteado, sem chão! Passado o pior desse susto, resolvi conversar muito com amigos, veterinários, donos de cães... Cheguei a consultar uma oncologista veterinária e em duas semanas ele já havia amputado a pata acometida pela doença...
Devido a diversos outros problemas que ele já tinha (hipotireoidismo, displasia coxo-femoral, artrose...), ele nunca se adaptou bem à amputação... Apesar disso, nossa casa, nossa rotina, nossos esforços se voltaram para permitir que a vida dele fosse a melhor possível ao nosso lado, independente do prognóstico sombrio dado por todos os veterinários consultados na ocasião...
Quase seis meses depois da operação, depois de muitas sessões de acupuntura, radiografias, exames de sangue, ultrassonografias, remédios e idas a veterinários, seus exames de sangue acusaram uma falha aparentemente irreversível da medula em produzir células sanguíneas... Nesse momento suas gengiva e língua ficaram tão claras que chegavam a ser mais brancas do que os dentes... Mesmo desacreditado, optei por uma transfusão sanguínea, feita poucos dias antes dele morrer... Nos dias seguintes, ouvi de vários veterinários que deveríamos considerar a possibilidade de eutanasiá-lo... Nesses dias ele já não se levantava mais, só comia deitado, quase não dormia...
Contudo, a ideia de sacrificar meu filho, muito embora martelasse a minha cabeça a cada 5 minutos, nunca foi aceita... Não me sentia no direito de decidir pelo fim de sua vida... Acho que, na verdade, eu não queria me privar de sua companhia nem que fosse por 5 minutos... Os últimos dias foram muito difíceis... Trabalhar era quase impossível.... Nem eu nem ele dormíamos...
Infelizmente, há uma semana ele cansou de lutar contra o câncer e levou com ele parte de mim... A julgar pela dor, essa parte mais parece física do que "apenas" um sentimento... Parece que me arrancaram um braço!!!
Mas eu não posso deixar de ser grato por todos os momentos muito felizes que ele me proporcionou... E agradeço demais a vários amigos, sem os quais eu jamais teria conseguido prolongar essa amizade até o máximo possível... Principalmente, à minha mãe, por depois de tantos anos permitir que eu realizasse o sonho de ter um cachorro... Hoje, ainda, a saudade é dilacerante... A única coisa que me conforta é saber que eu estive do lado dele até o último momento... Pois a última coisa que eu queria que ele voltasse a sentir nessa vida era solidão... A última coisa que eu deixaria ele sentir é que fora abandonado novamente...
Muito embora nunca tenha acreditado que cães tivessem espírito/alma, sonho com o dia em que o poderei ver de novo... Nem que seja por mais 15 longos segundos...
Iuri