★ 13/12/2016
Tekinha
Obrigada por todos os momentos de alegria, obrigada por todas as brincadeiras, obrigada pelo cheiro, pelo afeto, obrigada pelos olhos que se adaptavam em diferentes situações... ah, seus olhos... seus olhos se igualavam a prismas que refletiam o paraíso, tentar te encarar e entender suas feições era ser descoberta, ter a alma descoberta, por tanta intensidade, pureza e magia que seu olhar emanava.
Fiz uma aposta, a maior de todas, na verdade, fiz um ensaio de como seria minha vida sem você: perdi.
Não existe a vida sem você, não existe a paz sem você, meu sorriso se perdeu a formalidades sociais, meu corpo vegeta sem uma alma. Em um lance de desespero apostei tudo que tinha – o que me sobrou – no Ser imaginário dos contos bíblicos que me trouxe esperança de forma ilusória e desnecessária: você se foi.
Por você tive fé, fé na vida, nas energias, no cosmo, nas balelas todas que o ser humano inventa para tentar tornar a vida menos triste, menos tediosa, menos dolorosa. Por você ignorei que o espírito não existe, que o corpo morre, que perpetuamos através dos vermes que nos comem e pela cadeia alimentar perpetuam a vida.
Por você acreditei em amor e felicidade, realmente senti tudo isso, mas tudo se foi: a vida já não vive, se arrasta através do tempo.
Em uma última esperança de deixar seu coração perfeito descansar adiantei o inevitável, e você partiu.
Partiu para longe de mim e levou consigo meu coração e minha alma, levou minhas esperanças e minha felicidade, levou o pouco de belo que ainda existia em mim, porque foi você quem havia me dado.
Eu fiquei, fiquei com a dor que me consome, com o desespero e amargura de saber que amanhã não será melhor, que você não vai voltar, fiquei com o remorso do que poderia ter sido, com a tristeza em saber que a morte supera a vida.
Você partiu, para tão longe de mim e para nunca mais retornar. Partiu... mas em um último gesto de amor e companheirismo me deixou o agradecimento.
Gesto esse que me fez ver como você foi forte, lúcido e corajoso, em um momento que poderia se entregar você reagiu, me trouxe fé e paz, gesto esse que me fez ver o quanto a vida era valiosa, o quanto orgulhosa e grata eu me tornei por ter tido você, por você ter me escolhido e ter me feito te escolher.
Não foi por acaso, sem você por perto os meus planos eram enlouquecer, vegetar pela existência até o barqueiro resolver me levar em suas águas serenas. Você me trouxe vida... uma vida curta mais o suficiente para eu entender toda razão de estar viva... uma vida curta, mas o suficiente para eu conseguir seguir.
Só tenho a te agradecer, jamais entenderemos a razão entre o homem e seu cão, mas cuidar de você foi o suficiente para eu querer a vida, vida essa na qual me tornei um nada, mas suas lembranças servirão para eu continuar nela.
Vai em paz, mas sabendo que só porque você existiu, uma alma tão perturbada consegue ainda sobreviver.
Vera Regina